O Soquete de Carneiro

O soquete e a paçoca de pinhão são dois pratos regionais que registram a memória culinária de nossos avós luso-brasileiros, que trouxeram para os campos guarapuavanos, além dos sonhos, a tradição e os segredos da cozinha do homem do meio rural.

 

O “soquete” é um apetitoso prato feito com carne do “espinhaço” ou coluna vertebral de carneiro, temperada na véspera com vinho, sal e outros condimentos que queira acrescentar. Faz-se um molho com tomate, cebola, cheiros verdes ao qual se junta mandioca e batata inglesa… Para saboreá-lo, acrescenta-se, já no prato, farinha de mandioca, originando-se aí a denominação “soquete”.

 

No sul, “soquete” é designativo de “carne com ossos, cozida e servida com pirão”. Nas fazendas guarapuavanas, geralmente era o aproveitamento da carne mais rija e menos nobre dos carneiros capões, mais velhos, cuja pele com lã era utilizada para o feitio de pelegos, indispensáveis nas montarias e camas dos tropeiros em suas longas caminhadas. Igualmente, era sobre o pelego que dormiam os escravos e os peões, ao pé do fogo, nas frias noites de inverno. O termo foi incorporado ao vocabulário da região, após sua integração ao tropeirismo.

 

Nosso município possui condições ideais para a criação de carneiros: clima temperado frio, regulado pela altitude da região; campos cobertos com gramíneas finas, leves ondulações e capões de mato, cuja sombra serve de abrigo nas horas mais quentes do dia.

 

A carne de ovelha, bem como a bovina e a suína são produzidas em Guarapuava, desde o início do povoamento em 1810, pois a pecuária foi a principal atividade econômica no século XIX, e até a metade do século XX. A “Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava”, escrita pelo padre Francisco das Chagas Lima, 1° Capelão da Expedição que aqui chegou em 1810, em seu capítulo IV registra: “Os actuaes habitantes ocupam-se atualmente mais com a criação de gado vaccum, cavallar e lanigero, para os quaes se acham bastante pastagens próprias, tendo-se para aqui conduzido bastante crias”.

 

A Lista de Habitantes de Guarapuava elaborada em 1835, pelos inspetores de Quarteirão, registra também a produção de “porcos” em pequena escala.

 

O Balancete da Câmara Municipal, datado de 1858, e o Relatório do Presidente da Província do Paraná, de 1859, nos dão conta da produção local, onde aparecem o gado de criar e o gado de exportação. Eram criados: “vaccum, cavallar, ovelhum e jumento”. Como produto de exportação são citados: “vaccum, cavallar, muar, couros, crina, erva-mate e queijo”. Verifica-se assim que os ovinos, chamados de “ovelhum” ou “lanígeros” e os suínos eram usados somente na subsistência ou consumo local (produção de carne, pelegos, lãs, o sebo usado na fabricação artesanal de velas e sabão) enquanto que os bovinos eram exportados. O muar, trazido das regiões riograndenses ou platinas era aqui invernado e, posteriormente, exportado.

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A Paçoca de Pinhão

O segundo prato do cardápio, a “paçoca de pinhão”, também faz parte da culinária tradicional, é preparado com carne bovina e de porco, à qual se junta pinhão cozido. Nos primeiros tempos, esses três ingredientes eram picados a facão, bem miudinho; com o uso da máquina, passaram a ser moídos. O uso desse prato é explicado pela abundância de pinhão e pela produção de carne bovina e de porco desde o início da colonização da região.

 

Nos fins do século XIX e inicio do século XX, a crise econômica que atingiu os negócios de “invernagem” de gado provocou a desagregação do sistema tradicional campeiro. Foi a criação de suínos nas roças de “coivara”, tocados a pé em grandes mandas até o entroncamento ferroviário de Ponta Grossa, um dos fatores que concorreu para a reabilitação da economia regional.

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